sábado, 29 de janeiro de 2011

As tribus

   
Após 40 anos no deserto, finalmente os judeus chegavam à terra Prometida. Ainda durante a vida de Moisés, foram enviados 12 homens, um de cada tribo, para ver as possibilidades de se conquistar a terra de Canaã. Após quarenta dias de viagem, cada um volta com suas impressões. Todos falam da beleza e da fertilidade da terra, mas dos doze apenas dois confiavam nas possibilidades de se conquistar a terra: um deles era Josué, filho de Nun, da tribo de Efraim e assistente de Moisés no governo. O povo aceita o que disse a maioria e assim, a geração de ex-escravos do Egito é condenada a morrer sem poder pisar na terra de Tzion.

    Com a morte de Moisés, Josué assume a liderança do povo. Líder militar por natureza, é sob seu comando que os judeus partem para a conquista de Canaã. Primeiramente, ocorre a travessia do Rio Jordão. Após os preparativos, a travessia acabou sendo bem simples, pois esta foi acompanhada por um recuo das águas.

    Certamente, o episódio mais famoso da história de Josué é a conquista de Jericó. De acordo com a Bíblia os judeus cercam os muros da cidade, dão sete voltas ao redor e, ao toque das trombetas, as muralhas caem. Esse episódio é interpretado geralmente como uma demonstração de que a conquista de Canaã estava sendo fácil, devido à falta de resistência por parte dos habitantes de Canaã. Isto se devia ao fato de não haver um poder central em Canaã, sendo cada cidade governada por um rei, que normalmente era inimigo da maioria dos outros reis. Havia também uma grande diversidade étnica. Habitavam lá os jebuseus, amorreus, filisteus, etc... Eles eram desunidos e estavam geralmente envolvidos em lutas internas.. Com Josué, grande parte de Canaã foi conquistada.

    Após a morte de Josué, os judeus decidiram dividir as terras entre as tribos. A divisão foi feita por sorteio e, a partir deste momento a conquista se tornou muito mais difícil. As tribos de Judá e Simão, por exemplo, que ficaram com a parte sul, se uniram para conquistar, sem sucesso, algumas cidades fortalezas dos Jebuseus.

    O perídodo dos Shoftim (tradução literal – regentes, tradução usual - juízes) foi um período muito conturbado. Como os cananeus não foram exterminados, eles passaram a conviver com os judeus. Isso fez com que houvesse um intercâmbio cultural entre os hebreus e os cananeus. Os hebreus freqüentemente se desviavam dos mandamentos da religião. Não que eles não quisessem adorar D’eus – eles tinham uma visão diferente D’ele. Pensavam N’ele como um protetor mágico que pudesse ser invocado quando necessário. Esta também era a visão dos cananeus, que geralmente acabava sendo acatada pela maior parte da população das tribos por estar estabelecida há mais tempo. O conceito de um D’eus único era novo e demorou a se enraizar no pensamento do povo – isto só se dará no livro de Jonas, na época dos profetas.

    As histórias desse período podem ser resumidas em um ciclo de três fases. Primeiro, o desvio da religião e dos mandamentos de D´us por uma das tribos. Então esta acaba sendo submetida por algum outro povo da região até que surge um juiz que mostra o caminho para o povo e liberta-o do invasor. Geralmente, o juiz acaba se tornando o governante da tribo.

    As mais famosas histórias do tempo dos juízes são as de Débora e Sansão. Débora era uma profetisa que ao notar o perigo de uma invasão vinda da cidade de Hazor chama Barak, ótimo chefe militar para impedir isso. Barak reúne um grande exército com a presença de seis tribos de Israel (fato notável devido a divisão que houve). Contudo, os soldados de Barak estavam amedrontados pela fama do inimigo e Barak pede para Débora que acompanhe o exército. Sua presença levanta a moral dos soldados e os inimigos são expulsos.

    Já Sansão era um homem da tribo de Dan. Sua extrema força era respeitada pelos filisteus inimigos de sua tribo. Com sua força ele rasgou um leão ao meio, removeu as portas da muralha de uma cidade filistéia e lutou sozinho contra mil filisteus. Contudo, os filisteus enviaram Dalila para descobrir o segredo da força de Sansão. Ele, num momento de fraqueza, revela que sua força vem dos cabelos que nunca haviam sido cortados, Dalila os corta e Sansão acaba sendo preso. No fim, em um momento de beleza poética, estando Sansão preso e prestes a morrer nas mãos dos filisteus pede a D´us um último momento de força e em seu último ato reavê sua força, derruba os pilares do templo onde está preso e morre. Sua tribo acaba sendo expulsa de sua cidade pelos filisteus que avançavam do oeste. A tribo de Dan vai para Laish, ao norte. Essa história ilustra as dificuldades dos hebreus em manter o controle da terra, já que não apenas os filisteus, mas também os jebuseus ameaçavam esta tribo.

    Cabe notar a mudança de foco entre as histórias de Josué e dos Juízes. Enquanto Josué estava preocupado com a questão da conquista da terra e a criação de um território nacional. A principal luta dos juízes estava em manter a religião judaica, impedi-la de se assimilar aos outros povos que rondavam o território judaico. Tarefa muito difícil, visto que nem mesmo os juízes se encaixavam no paradigma de hebreu da época – Gideão casa-se com canaanitas. Sansão com um filistéia. Jefté parece ter sido culpado da prática de sacrifício humano. Indica-se também que toda a tribo de Benjamin teria se corrompido até o ponto de comparar-se com Sodoma. Isto, no entanto, teria sido demais e o resto dos israelitas ataca Benjamin, para castigá-la.

    É necessário, também, perceber que não havia uma consciência nacional entre os hebreus. Não existia um governante supremo para as doze tribos, os juízes governavam apenas sua tribo. Conseguir auxílio das outras tribos era considerado uma proeza. As tribos de Rubem, Gad e metade da tribo de Manasseh não haviam cruzado o Jordão, estabelecendo-se em Gilead, território situado na margem oriental deste rio.

    O único resquício de nacionalidade neste período é a existência do Santuário de Shiloh. Havia muitos santuários tribais em cada região, mas considerava-se supremo o de Shiloh. Neste santuário ficava a arca da aliança e ao sacerdote que ali residia, um descendente direto de Aarão, era conferido o título de sumo-sacerdote. No entanto, nem mesmo isto era muito estimado pelos hebreus. Poucas pessoas peregrinavam até o tabernáculo erguido no meio do deserto e a assistência prestada era pouca.

    O período compreendido entre as conquistas de Josué e o fim do período dos juízes, com Samuel, o profeta, que dá a Israel um Rei, é de extrema importância para o povo judeu, sendo quando os judeus conquistam e firmam um território e quando se nota como seria importante a união das várias tribos que se concretiza na época dos reis.

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